De acordo com as recomendações da Hospice Africa e da Associação Africana de Cuidados Paliativos (APCA),o modelo ideal de assistência na região é o atendimento domiciliar com acesso a internações hospitalares. A hospitalização de pacientes, como é feita em alguns países não é considerada adequada na África, devido ao custo de cuidar de pacientes hospitalizados e o peso da separação de suas famílias associado as suas preferências em ficarem em casa no final da vida. A partir deste contexto em 2013 se estabeleceu o programa Porta a Porta de Atenção Paliativa Domiciliar por parte de Paliativos Sem Fronteira no Centro de Saúde de Bikop para 28 aldeias.

Programa Porta a Porta-PSF Camarões

A Dra Ana Gutiérrez é representante do Paliativos Sem Fronteira em Camarões e em poucas linhas descreveu o espírito da cooperação, da sensibilidade e da compaixão.

Psicóloga Andrée Sidonie Lyeb e Dra Ana Gutiérrez-PSF Camarões

“Cuidar, assistir, curar, aliviar tem a ver com “reparar” a pessoa em todos os seus aspectos: físico, espiritual, social e psicológico. Envolve alcançar seu coração para tentar aliviar seu sofrimento e sua possível origem, que muitas vezes não é apenas física, principalmente no caso de pacientes crônicos e paliativos.”

”Não podemos apenas alcançar a doença, temos que alcançar a pessoa inteira. Não podemos nos contentar em curar um processo ou aliviar certos sintomas, mas devemos tentar aliviar a pessoa inteira com todas as suas necessidades, incluindo os aspectos psicológicos, sociais, espirituais e familiares”.

Curar, aliviar, confortar o coração implica:

• Atenção personalizada. Cada indivíduo que temos diante de nós é único, irrepetível.

• Atenção globalizada: levar em consideração todos os aspectos da pessoa.

• Atenção à fragilidade: abordagem das limitações e da pobreza humanas, onde quer que a pessoa se sinta mais frágil, às vezes onde ela tenha sido mais humilhada. Temos medo de abordar processos muito virulentos que às vezes nos repudiam, mas temos que superar a tentação de fugir diante da fragilidade.

• Trabalho em equipe e corresponsabilidade: onde cada profissional pode colaborar a partir de sua contribuição específica no tratamento com vistas a cura da doença ou alívio do paciente, no diálogo dentro da equipe e também com o paciente e sua família.

• Saber combinar suavidade e firmeza: incentivá-lo a cumprir os tratamentos e ser responsável por seu próprio processo, fazendo-o sentir que a sua vida continua fazendo sentido. Estar atento às suas necessidades e oferecer ternura em meio à fragilidade.

• Discernimento ético: distinguir e escolher as medidas terapêuticas mais apropriadas para cada paciente.

• Abraço compassivo: acolher a pessoa em sua totalidade com suas virtudes e fragilidades, com sua história, com sua necessidade de reconciliação, acolhendo-a em seu momento atual de doença para informá-la com sinceridade, na medida em que a pessoa deseja conhecer a verdade do seu processo, sempre com proximidade, empatia e afeição. Saibamos como nos aproximar de nossos pacientes a partir da pedagogia do coração, que não tira nada da nossa boa prática científica, mas pode proporcionar uma vantagem adicional à humanidade.